Carregava duas estrelas no lugar dos olhos. Dois termômetros do alimento bruto de sua essência. Quando o brilho ameaçava fagulhar a falha, quando a ausência se mostrava possível presença, corria o mais rápido que pudesse - mesmo que parada - pra perto do que a consumia.
Às vezes é necessário ser consumida pra ser restaurada.
Um livro, um poema, uma frase, uma lembrança, uma laranja, um pau de canela, um chá fraco, um café forte - tudo e qualquer coisa. Menos a morte.
A morte nunca foi criança. A morte não sabe brincar. Ela sim. E brinca quando pode e quando não deve. O raso não lhe serve.
Gosta da selvageria que é sentir a tessitura aloprada da caneta desenhando destinos, ideias, desatino. Correndo a mão pelo infinito branco da folha que lhe acolhe. Essa tatuagem em azul das coisas que nunca foram ditas e também das indizíveis era o portal de Aruanda, mas também o buraco negro.
De quando em vez as mãos dizem melhor e vão além, alcançam lugares, olhos e destinos que as bocas já não podem mais.
Esse além que se sobrepõe em camadas consegue de algum modo ouvir o que a caneta grita. Ela também.
E, se mesmo assim, com todos estes dispositivos, um dia as estrelas não brilharem mais, ainda haverá a esperança do grande sol que carrega, renascer dentro de si.
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