La negra y la rosa - Juan Ramón Jiménez

"Una realidad invisible anda por todo el subterráneo, cuyo estrepitoso negror rechinante, sucio y cálido, apenas se siente. Todos han desejado sus periódicos, sus gomas y sus gritos; están absortos, como en una pesadilla de cansancio y de tristeza, en esta rosa blanca que la negra exalta y que es como la conciencia del subterráneo." - La negra y la rosa - Juan Ramón Jiménez

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

o essencial é indizível.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Hoje

Imagem: Otto Dix, A Jornalista Sylvia Von Harden

Hoje acordei com preguiça das pessoas. Hoje acordei com uma saudade de poucas que me bastam. Minha culpa arde por não saber ser má.

Arpejos



Ana Cristina César







1



"Acordei com uma coceira terrível no hímen. sentei no bidê com um espelhinho e examinei minuciosamente o local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa não percebem que um rouge a mais tem significado a mais. Passei uma pomada branca ate que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante. Com essa murcharam igualmente meus projectos de ir de bicicleta à ponta do Arpoador. O selim poderia reavivar a irritação. Em vez decidi me dedicar à leitura."

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SOMBRA

Ouço um filhote de gato a miar à noite.

Meu coração palpita sem que eu possa o controlar.

Uma culpa me assombra...

Envergonho-me.

Corro até a janela. Nada.

Agora é alguém que me chama...

Viro-me, mas não há ninguém.

Deito com roupa e tudo.

Cubro-me em meio a calafrios.

O jeans pesado me amarra.

Fecho os olhos, apertando, espremendo as lembranças.

Mas é no escuro que enxergo,

É no silêncio que nos comunicamos...

Não quero falar.

Ouvir é inevitável.

Tenho medo de meus pensamentos.

Temo não o controlar.

Meus olhos já fechados, agora pesam.

Durmo. Mas não há sonhos.

Meus dedos estão rachados. Não falo sobre eles.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

     
                                                O DESFILADEIRO - MONET, CLAUDE





Todo Carnaval Tem Seu Fim



Los Hermanos


Composição: Marcelo Camelo


Todo dia um ninguém josé acorda já deitado


Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado


Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia


Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado


De que o dia insiste em nascer


Mas o dia insiste em nascer


Pra ver deitar o novo






Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada


Toda Bossa é nova e você não liga se é usada


Todo o carnaval tem seu fim


Todo o carnaval tem seu fim


E é o fim, e é o fim






Deixa eu brincar de ser feliz,


Deixa eu pintar o meu nariz






Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco


Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco


Toda escolha é feita por quem acorda já deitado


Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado


E pinta o estandarte de azul


E põe suas estrelas no azul


Pra que mudar?






Deixa eu brincar de ser feliz,


Deixa eu pintar o meu nariz




Princesa Isadora

Isadora era uma princesa completamente diferente do que toda a monarquia poderia apresentar. Sua cor favorita não era o rosa ou azul celeste, era o cinza. O cinza que era o não e o sim ao mesmo tempo, que era o talvez ao vivo e a cores ou à falta delas.


Dias de sol e passeios em lagos não a animavam como dias nublados e banhos de chuva. Ai... a chuva. Não havia cena que a encantasse mais que a chuva, encantamento é mesmo uma palavra que combina com as sombras da princesa.

Gostava de dias cinza porque a deixavam melancólica, triste, e ela achava a tristeza linda. Não a tristeza que faz doer fundo, que parece explodir uma bomba de dentro para fora. Se bem que se fosse uma bomba de chocolate com o barulhinho da chuva na janela, bem que seria gostoso... Ela gostava mesmo era da tristeza que cria, que paralisa, que emociona, que dá taquicardia.

Ela sabia, como ninguém, sentar à janela com uma música azul ao fundo, as luzes apagadas, vendo as nuvens se espremerem lá do céu só pra ela suspirar e imaginar coisas que só podia com esse cenário.

Isadora era completamente atrapalhada e sem saber nada do que queria, sabia o que esperar da vida: não esperar nada ou quem sabe tudo. Quem sabe? Não se sabe... Nem queria saber, gostava de surpresas, de desafios que a levassem ao desatino e brincassem de fazê-la sentir 12 tipos de frio na barriga. O frio, o fio, o tempo, coisas que também encantavam Isadora. Isadora gostava de coisas, mas gostava de gente também e mais ainda de bichos. Gatos eram os seus preferidos, só para ela havia sete, um de cada jeito, com um balançar único sobre muros e telhados. Gostava das borboletas azuis e amarelas e também de margaridas. As margaridas eram tão simpáticas. Mas de tudo isso, o que ela mais gostava mesmo era de sua torre alta, porque lá podia se isolar de tudo e todos e ser triste ou feliz ou o que desse na telha do telhado da torre. Sua torre? Os livros.

Pare.

[De joelhos no sofá, cotovelos na janela, mãos suportando a face meio de lado e os olhos perdidos naquela chuva achada. Não tinha cena que paralisasse mais, mas o engraçado é que parando disparava o coração e levava a cabeça pra longe... Longe... Num longe assim meio perto, meio vago, meio embaçado. Embaraçada naquela chuva, ela sente, respira fundo esse cheiro que a chuva lhe dá de presente cada vez que cai do céu. Pode estar no trapiche, no curral, no asfalto. O cheiro da chuva é sempre inconfundível, mesmo com tantos toques diferentes, levantando um pedaço do lugar onde cai e trazendo um pedaço do lugar de onde veio. Chuva. Se pudesse, se chamaria assim pra paralisar quem mais parasse na janela, parasse a rotina, só pra ouvi-la, pra senti-la, assim, chovida. Adora a coreografia dos lampejos no céu, dos trovões e relâmpagos, colorindo, para lá, pra cá os ventos que se atrevem a provocá-los e então começa o show, abrem-se as cortinas e os ventos provocados assoviam e mexem freneticamente arrastando o que lhes vêm pela frente. Não há frente, não há costas, a chuva é feita de lados. E ela... Adorava abrir um lado seu pra deixar a chuva passar.]

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